sábado, 28 de março de 2020

Uma solução para a Quarentena no Brasil


Ano 2050 no Brasfoot, São Paulo – Caros gestores públicos, sociedade civil e empresariado,

Vivemos uma crise sem precedentes no que tange a todos os países da América Latina simultaneamente. No entanto, a região não poderia seguir com cada qual levando caminhos mais distintos. Brasil e Argentina mantém um antagonismo extremo, e a estratégia ocidental se adequa aos melhores padrões globais.

A Argentina decretou uma quarentena irrestrita para conter a expansão do Covid-19. No entanto, o caminho para que o país pudesse solicitar a seus cidadãos uma medida de tamanha restrição, e a mesma ser obedecida, vem sendo consolidado há anos. Enfrentando uma inflação desenfreada, consolidou-se na Argentina o “precíos cuidados”. O programa visa garantir que a população tenha acesso a bens necessários a despeito das intempéries econômicas. E lá sempre esteve o vinho tinto. Peronismo e seus adversários adotaram a mesma estratégia, apesar da chamada “grieta”, aparentemente inconciliável. Na vida há coisas muito mais importantes do que a mesma, ou a política. E os argentinos sabem que futebol e vinho são duas delas.

Malbec é uma espécie de Maradona das uvas. Ambos encantaram o mundo com sua qualidade, e mesmo os pioneiros tiveram de se curvar ao seu inenarrável esplendor. Recentemente, o NYT publicou um artigo que buscava incentivar mudanças na produção do malbec com o intuito de torná-lo mais requintado para assim ser vendido. Um tamanho engano. Assim como Maradona, o Malbec é do povo. E não pode ser subvertido.

Mas a “grieta” na Argentina nunca desaparece, sempre está à espreita, assim como o Boca em uma Libertadores. Mesmo o vinho do povo causa divergências, e a adição do “sifón” de soda é a maior delas. A classe trabalhadora defende que a borrifada de água com gás é uma medida necessária para prolongar a apreciação. Por outro lado, puristas defendem que é um crime com o produto. Como toda discussão argentina, os argumentos são infindáveis. O importante é que se tenha acesso a uma taça para segui-los.

A Argentina foi um dos seis países citados como membros do G20 que adotaram medidas gerais de quarentena pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo. Nas últimas linhas, fica clara a razão de ser tão mais simples ficar em casa no país. Outro é a França, que dispensa apresentações no quesito. Recentemente, o jornalista João Paulo Charleaux, baseado em Paris, falou sobre o prazer de comprar um vinho francês com moedas. A Itália, também conhecida pela sua produção, ainda é membra da UE, o que a isenta de boa partes das taxas de importação de vizinhos com parte do melhor do mundo. Também na lista, apesar de não ser membro oficial do G20, está a Espanha, em situação semelhante. O federalismo alemão impediu uma decisão geral vinda de Berlim, mas é notório o poder de compra proporcionado pelo euro para os germânicos.


Em situação semelhante, estão os EUA, com boas produções na Califórnia, e uma grande capacidade de importação pelo seu PIB per capita. Outro citado é a África do Sul, e ali é onde podemos mirar para uma tentativa de recuperação de empregos após a Covid-19. O país, assim como o Brasil, viu uma desvalorização de sua moeda nos últimos anos. Com uma logística para exportação mais cara do que competidores no cenário viticultor, os sul-africanos aproveitaram a queda do rand para tornar sua produção mais competitiva no exterior, e conseguiu penetrar em importantes mercados. O Brasil vem de melhoras, inclusive estimulada pela demanda interna, e a aparente irreversível desvalorização do real pode ser uma chance de fazer um produto de qualidade “made in Brazil” competitivo em grandes mercados.

Resta a Índia, que para além dos cerca de 20% de muçulmanos, não é lá um país notório pelo consumo alcoólico per capita. Dentro do G20, é de lá que devem sair algumas das medidas mais radicais do governo para buscar a preservação da quarentena e da ordem social. É pretensioso estabelecer uma relação de causalidade, mas não acredito que o consumo de vinho a preços acessíveis dificultasse a manutenção do povo em suas casas.

Um isolamento social sem precedentes é um desafio a todos, e, por período indeterminado, pode causar efeitos drásticos. No Brasil, as maiores cidades já passam a experimentar momentos de insanidade coletiva após às 20h nas janelas. Convocações para uma apresentação coletiva de Evidências já são observadas, e eu mesmo já presenciei um coro, ainda que em menor intensidade. O prolongamento do isolamento pode causar efeitos ainda mais nocivos.

Uma crise de tamanhas proporções oferece como oportunidade o abandono de diretrizes tidas como imutáveis. Já é consenso geral o espaço fiscal para que os efeitos da pandemia sejam minimizados no país. Desta forma, uma isenção fiscal extraordinária para o setor vinícola teria efeitos positivos superiores para amenizar a crise do que a decorrente diminuição na arrecadação. Em médio prazo, o incentivo se mostraria ainda uma oportunidade na recuperação de empregos tendo em vista o fomento de uma indústria competitiva nacional. É possível sairmos todos juntos da crise, mas sóbrios, é muito mais difícil.   

Acima a heroica produção às margens do São Francisco. Demanda gerada por incentivos pode auxiliar na recuperação do emprego. E quem sabe evitar mais Evidências (FOTO: Eduardo Andreassi)

sábado, 21 de março de 2020

Na crise, "Adultos do mundo, uni-vos"

A pandemia relacionado à COVID-19 pegou grande parte do mundo de surpresa. Para uma menor parcela das pessoas, globalização e a interdependência cada vez maior entre agentes de uma cadeia internacional faziam de uma epidemia de proporções globais não uma mera possibilidade, apenas uma questão de quando. A SARS e a MERS não tiveram uma penetração em grande escala, e o Ebola se notabilizou muito mais pela mortalidade do que pela transmissão. Mas muita gente seguiu trabalhando contra o desastre.

A grande parcela do mundo que se deu ao luxo de ficar surpresa toma sua rotina como direito adquirido e inviolável. Trabalhar, se encontrar com os amigos nas folgas, ir ao mercado, para uma importante parcela da população são atos tão triviais quanto respirar. Quando uma quarentena rompe com isso, a fragilidade se mostra. Um médico em Aleppo antes de guerra civil da Síria, ou um advogado em Caracas pré-colapso venezuelano, também tinham suas rotinas, e as seguiam como se fossem invioláveis até o dia em que tudo mudou. A crise nos aproxima.

Porém, diferente de conflitos, quando é relativamente simples encontrar responsáveis, o drama causado pelo vírus deixa tudo menos nítido. Goffredo Buttini escreveu no Corriere Della Serra “Como um 11 de setembro dentro nós”. No texto, publicado por um diário de Milão, principal cidade da Lombardia, hoje epicentro da doença que: “O inimigo, o terrorista, o veículo da morte pode ser nosso irmão, nosso filho”. Além de romper bruscamente a rotina de uma das mais belas cidades europeias, o vírus coloca todos em uma situação de constante suspeita.

Em uma semana, a pandemia fez o bem de aniquilar os delírios relativos às críticas ao “globalismo” e à cooperação internacional. A vilipendiada ONU em tempos de paz, hoje é referência global com seu braço para a Saúde, a OMS. Governos críticos ao órgão, caso de Filipinas, EUA e Brasil, seguem as cartilhas de recomendações do mais alto nível de cooperação técnica em um mecanismo gerado por boa parte dos melhores recursos globais nas áreas. Prova disso é a liderança de um etíope, que tem resultados notáveis em seu país natal para a saúde. Em tempos de crise, inépcia é luxo para poucos.

A União Europeia é outra instituição que sai destacada. A Comissão, seu braço executivo, foi capaz de dar respostas rápidas e coordenadas à crise, sem retirar a independências de seus países membros. O BCE com seu pacote de estímulos foi pioneiro em diretrizes que diversos outros atores globais acabariam tomando. A dura cobrança em termos fiscais, notabilizada pelo caso italiano, em nenhum momento foi convertida em intransigência diante da calamidade, que afetou profundamente o membro que com frequência causa mais dificuldades com seu orçamento.

Pelo mundo, as diretrizes, tomadas em especial após a decisão italiana de quarentena completa, se distanciaram muito pouco. No geral, a gravidade da situação de cada lugar foi o que levou a decisões mais ou menos drásticas. Em 12 de março, a capa da Economist trazia o questionamento de uma solução “All’italiana” como referência para outros países, o que se confirmou na prática. Poucos temas recentes causaram tamanha convergência.

Acontece que os mesmos que não estão surpresos com a pandemia anteveem outra catástrofe, potencialmente mais grave. O impacto da crise climática já afeta bruscamente a rotina de milhões de pessoas, ainda que não seja determinante para impedir o funcionamento de cafés parisienses ou levar caos a Wall Street. O Sudeste Africano sofreu bruscamente com mudanças de temperatura e fenômenos extremos. Em ilhas como Tuvalu, pouco se pensa para além do aumento do nível dos oceanos. E em um dos casos mais dramáticos, o processo de desertificações em regiões africanas é uma das causas que abastecem o fluxo de refugiados que chegam à Europa, em um efeito que ai sim chama a atenção. E em tempos, o COVID-19 mostrou que crises e emergências devem ser tratadas com seriedade e a maior aptidão possível. Ou em algum momento se cogitou adolescentes como “vozes” contra a pandemia?

No Brasil, teremos de lidar com uma questão bem conhecida, e que se agravará com a pandemia. Com os níveis de violência do país, um potencial desabastecimento, ou mesmo as ruas vazias, pode causar um cenário de verdadeiro caos. Em São Paulo, já há relatos de arrastões em supermercados, tendência que deve se espalhar pelo país nos próximos dias. Crise em segurança pública é um tema para adultos, e que infelizmente foi contaminado por nichos ideológicos em um passado recente no Brasil. Que os ventos globais da responsabilidade e do bom senso possam direcionar o tratamento aqui. É hora do Memestão ficar de quarentena.

Do bom relato da correspondente do El País em Pequim: “Desta se saí, não duvidem. Obrigada por colaborar e ficar em casa”.

          Tedros Adhanom, líder na crise, tem importante repertório na Etiópia. FOTO: Instagram

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Década perdida? Para palestinos, pode ter sido o Estado


Em 2017, o palco midiático estava montado para especiais sobre os 50 anos da ocupação israelense. A efeméride poderia mostrar a dura vida em Gaza sob bloqueio, a situação dos refugiados nos vizinhos, a vida dos palestinos em Israel. Mas 2017 foi o primeiro ano de Donald Trump na presidência dos EUA, e a Guerra Civil da Síria era o principal assunto no Oriente Médio. A Questão Palestina ainda ameaçou ganhar espaço com a transferência da embaixada norte-americana para Jerusalém, o que prometia “colocar fogo no mundo muçulmano”. Apesar de alguns distúrbios de início, a representação seguiu na Terra Santa sem percalços. Mas, no geral, a data passou longe da atenção que se esperava.

A transferência inviabiliza a Solução de Dois Estados, que até a última década era vista por grande parte do mundo como a melhor para sanar o conflito que por anos foi a questão chave no noticiário internacional. No comando de Benjamin Netanyahu, desde 2009, o que se viu foi o aumento de assentamentos judeus em território que deveria pertencer a um futuro Estado palestino. Além disso, outras nações seguiram os EUA reconhecendo Jerusalém como capital israelense, o que inviabiliza a noção de uma cidade compartilhada, parte fundamental da Solução de Dois Estados.

A Guerra Civil da Síria ofuscou a Palestina em diversas frentes. Em termos de tragédia humanitária, Gaza perdeu destaque para Aleppo, ou a região que sofria na ocasião, quando o tema ganhava o efêmero protagonismo nos noticiários. A questão dos refugiados em países vizinhos, importante ponto nas negociações por conta do direito de regresso, perdeu força frente às centenas de milhares de sírios deslocados. No Líbano, de população diminuta e palco de frequentes tensões com palestinos, a leva de sírios ganhou o foco. Premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017, “O Insulto”, que trata das relações entre palestinos e libaneses, foi um dos poucos momentos em que a situação Palestina ganhou destaque na década.

Na complexa Guerra Civil da Síria, o Hamas tomou uma posição errática contra Bashar Al-Assad, que desagradou aliados fundamentais, em especial o Irã, o que colocou o grupo em vulnerabilidade por falta de fundos. Por outro lado, o potencial rival Fatah não conseguiu ocupar o vácuo do Hamas em Gaza por enfrentar problemas internos, com duras denúncias de corrupção, que enfraqueceram também a gestão na Cisjordânia. Envelhecido, Mahmoud Abbas não fez sombra a Yasser Arafat, antecessor com grande presença no imaginário internacional.

O Acordo Nuclear com o Irã abriu oportunidades para um dos mais duros golpes à causa palestina. Ainda que com ressalvas diplomáticas, o inimigo comum uniu Israel e Arábia Saudita naquela que é uma das mais importantes guinadas geopolíticas na história recente. Os sauditas, como tradicionais líderes entre os muçulmanos, compuseram a oposição ideológica ao Estado de Israel. Agora, fazem parte dos grupos de governos árabes que aceita a existência e convive com a nação, assim como Egito e Jordânia fizeram no século passado. Além da importante proximidade militar, leva outros parceiros, em especial os Emirados Árabes Unidos para a aliança. É importante ressaltar a diferença entre governos e o povo em caso como este, já que a aceitação geralmente é bem diferente entre a população em geral.

O grupo de nações em desenvolvimento que tradicionalmente fez uma maioria para contestar Israel na ONU caiu na última década. Além de países como a Guatemala, que decidiu transladar sua embaixada, a hábil política externa israelense buscou estreitar laços com dezenas de nações. Em 2016, já havia assinalado como a postura vinha ganhando sucesso na África. Oferecendo tecnologia e parcerias estratégicas em áreas que Israel é parte da liderança global, o país também ganhou em aproximação ideológica. Assim como no caso de países latinos, que é bastante noticiado no Brasil, comunidades evangélicas veem com bons olhos o estabelecimento do Estado Judeu. O lobby foi fundamental na postura de Trump, mas também tem presença em países como Uganda, em que o governo recentemente tomou posturas próximas à religião. O potencial é ainda maior com a recentemente verificada expansão de igrejas evangélicas no continente africano.

Na política interna israelense, mesmo com número recorde de eleições por conta da paralisia em formar um governo, o tema foi menos discutido do que historicamente. Irã, corrupção, crise habitacional e o caráter do Estado foram assuntos mais determinantes para os eleitores do que a questão com os palestinos. Por sua vez, os trabalhistas viram sua relevância minguar a níveis de quase se tornarem irrelevantes. Yitzhak Rabin, signatário do Acordo de Oslo, era do partido, e foi um dos principais nomes na defesa da Solução de Dois Estados, assim como outras figuras históricas à exemplo de Shimon Peres.         

O Haaretz, um dos principais jornais israelenses, concluiu um resumo sobre a década na região sem citar os palestinos nenhuma vez. Além da Primavera Árabe, na qual se insere a Guerra Civil da Síria e outros conflitos, a publicação citou o Acordo Nuclear e o Daesh como os fatores chaves. A proporção que o autointulado Estado Islâmico ganhou fez com que os esforços internacionais se voltassem a um inimigo comum, deixando outros conflitos em segundo plano. Com sua vocação ao espetáculo e grande capacidade organizacional, o Daesh conseguiu unir rivais e deixar qualquer situação como secundária, algo que a Al Qaeda não chegou nem próxima de lograr.

Thomas Friedman, um dos principais colunistas de política externa no mundo, escreveu que a Solução de Dois Estados estava morta algumas vezes. Mas não se falar de um problema não acaba com a mesmo. É provável que a próxima década não traga um acordo, mas Israel terá de lidar com uma questão fundamental. Ou dá cidadania plena aos árabes em seu território, o que impede seu caráter judeu por conta da demografia, ou vive um regime de exclusão com cidadãos de classes diferentes, o que extingue seu caráter democrático. O palco é perfeito para extremismos. Certeza para o futuro é que perdemos a rara lucidez de Amos Oz, morto no fim de 2018, que acreditava que "a síndrome do século XXI é o choque dos fanáticos de todas as cores e o resto de nós".

Em dez anos, Netanyahu alterou o status do conflito. Mas nem isso bastou para estar entre os 50 mais influentes da década para o Financial Times. FOTO: Jack Guez/AFP 

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Portugal elege maioria com pragmatismo, mas uma história preocupa


Com resultados dentro do previsto na maioria das pesquisas, Portugal optou pela continuidade. Em uma situação bem mais tranquila do que em 2015, o PS poderá escolher os parceiros para formar uma nova coalizão. Com uma política econômica equilibrada, capitaneada pelo ministro das Finanças Mário Centeno, de excelente imagem junto aos mercados, o atual governo tirou motivos do voto à direita e conquistou um bom resultado que passou perto de uma maioria absoluta. Mas uma cadeira dentre as 230 no parlamento conta uma história que preocupa.

Até então o único país do sul da Europa imune à extrema-direita, Portugal viu chegar ao parlamento André Ventura com o seu “Chega!”. Político em Loures, cidade próxima à Lisboa, Ventura ficou famoso por suas declarações críticas à minorias, e em especial ataques contra à mais vulnerável do país, os ciganos. Enquanto as atenções se voltam, com razão, aos bons resultados alcançados na última eleição quanto a candidatos negros, os ciganos seguem em uma difícil situação em que indicadores sociais destoam muito do restante da população.

Os votos que elegeram Ventura no distrito de Lisboa vieram sobretudo de Loures, Sintra e Amadora, notórias pela grande população cigana. Há de se ressaltar que no sistema político português a criação de um partido é bastante simples, mas a chegada no parlamento, e o consequente financiamento público são bem complicados de se lograr, sendo a entrada do “Chega!” um grande feito. O resultado mostra que, enquanto Portugal ostenta prêmios de melhor destino turístico do mundo, e Lisboa se coloca como uma cidade cosmopolita, nos arredores há um grave problema social a ser levado em conta e o voto em Ventura é a expressão disso.

O deputado acusa o “politicamente correto” com frequência, e de fato, a queixa é comum em amplas camadas da sociedade portuguesa. O questionamento é uma das plataformas políticas abordadas por Antônio Sousa Lara, um dos ideólogos do partido, e que concorreu pelo “Chega!” nas últimas eleições. Longe da caricatura global da extrema-direita, Sousa Lara é um notório intelectual, sendo um dos mais prestigiados professores do país. Conservador de profunda sensatez, dentre os muitos aspectos de sua interessante biografia está o respeito pelo regime cubano, que surpreende aqueles acostumados ao maniqueísmo que tomou conta do cenário político.

Nas outras 229 cadeiras, vigorou o típico pragmatismo português. Com um governo de esquerda responsável, coube à oposição apostar nas críticas quanto à corrupção e a gestão de crises que marcaram o mandato, sem grande efeito. No último dia de campanha, Antônio Costa deu motivação aos críticos ao se destemperar e agressivamente responder a um senhor que lhe questionou no Terreiro do Paço. A reação foi criticada pelo público em geral e marcou uma campanha até então tranquila.

O PAN – Pessoas, Animais e Natureza conseguiu aumentar sua presença parlamentar e é uma opção para governar junto ao PS. O partido, criticado por não conseguir se posicionar com consistência em questões para além dos animais, é expressão de uma preocupação ambiental maior. O europeísta Livre, que tem como uma de suas principais plataformas um Green New Deal para a UE, também conseguiu representação. Se posicionar nos debates nacionais e orçamentários é um desafio que ambas as legendas terão na Assembleia da República.

Em um ambiente tranquilo e de estabilidade econômica, o PURP, partido dos aposentados sobre o qual contei a curiosa história em 2017 na Piauí, não conseguiu engrenar. Criado em meio à crise, quando os idosos no país chegaram a serem considerados como “a peste grisalha”, mas o cenário mais favorável aos reformados levou os portugueses à escolhas mais ortodoxas. O divertido líder do partido, Fernando Loureiro, chegou a dizer na campanha que em caso de fracasso, iria abandonar a política para ir pescar.      

Como bem apontado por Mathias Alencastro: "O papel irrelevante das redes sociais, e a consequente ausência de fake news, é, sem dúvida, um dado essencial para entender a qualidade da democracia portuguesa." As redes sociais, responsáveis pelo tumulto político em outros países, não tem o mesmo efeito em Portugal, beneficiando a estabilidade e soluções menos populistas escolhidas pelos portugueses. Os “coletes amarelos” no país foram um fracasso, provando a menor tentação do pragmático povo aos cantos de sereia dos bastiões da internet que buscam reinventar a roda diariamente.

Um dos debates mais interessantes que ocorre hoje no país é justamente como o governo pode beneficiar os meios de comunicação chamados de “referência”, sem que os mesmos percam independência. Portugal entende que “jornalismo de qualidade demanda recursos” e que o mesmo é um dos pilares da democracia, o que leva a discutir formas de enquadrar os subsídios no enxuto orçamento de constante escrutínio de Centeno.

A desconfiança que evita populismos tem como fruto também a alta abstenção, de 45,5% na última eleição, um recorde. Com o jargão “são todos uns corruptos”, perpetua na sociedade um clima de constante desilusão com a política. Por sua vez, a falta de paixão auxilia em um escrutínio constante, com casos de incompetência ou desvios sendo punidos a despeito de ideologias políticas. Algum português que tenha lido até aqui já deve estar me xingando e dizendo que não, “tá tudo uma merda”, e como tenho saudades de ouvir isso a “tomar uns copos”. 

   Assembleia da República, que agora passa a contar com a extrema-direita. FOTO: Wikimedia

sexta-feira, 15 de março de 2019

Ministro da Educação: teste contra "patriotice", e Brasil falhou


Em meio às repercussões das polêmicas entorno do Ministro da Educação Ricardo Vélez Rodriguez, com frequência a utilização do termo “estrangeiro”, ou algo semelhante a “colombiano que veio falar mal do Brasil”, foi ignorada. É fato que no caso referente à carta do hino nacional, e em outros, a postura do notável polemista deve ser discutida, mas utilizar o local de nascimento do mesmo para desqualifica-lo é uma canalhice, que infelizmente é comum.

Henry Kissinger e Madeleine Albiright são dois dos mais notórios secretários de Estado norte-americanos da segunda metade do século XX. Ambos fugiram do nazismo, refugiaram-se nos Estados Unidos, e construíram carreiras notórias dentro das relações internacionais. Kissinger é um dos grandes estrategistas externos do partido republicano, mas conta com amplo respeito na área internacional de todos os lados. Albiright serviu aos democratas no governo de Bill Clinton, e foi aprovada no Senado por unanimidade para seu cargo. Ambos, de origem judaica, eram acusados por antissemitas de colocarem suas raízes ashkenazis do centro da Europa acima dos interesses norte-americanos, em uma incapacidade de críticos para questionarem seus feitos.

Com uma porcentagem da população de origem estrangeira relativamente pequena, em relação ao resto do mundo, é possível contemporizar reações extremistas no Brasil. Estas questionaram a validade de alguém que nasceu fora do país ocupar o cargo de ministro, e mesmo cogitaram a expulsão de Vélez Rodriguez. No entanto, casos como os citados dos secretários de Estado norte-americanos, ou Ahmed Hussen, refugiado somali nomeado ministro da Imigração por Justin Trudeau, são comuns mundo afora, e com frequência notabilizam-se por serem grandes histórias.

Há alguns cargos que exigem desde a nascença no país à cidadania desde a origem. Por exemplo, no caso da Presidência de República de Portugal, o ocupante do cargo tem de ter sido desde sempre português, o que não necessariamente designa aquele que nasceu em território lusitano, já que a cidadania ali é definida por consanguinidade. Na prática, filhos de pais portugueses são os aptos ao cargo. Já a posição na Assembleia da República pode ser ocupada por aqueles que adquirem a cidadania no decorrer da vida, e mesmo por brasileiros residentes com direitos equiparados. Portugal é só um exemplo, e há constantes variações sobre o tema no mundo. O que costuma ser universal é a canalhice de quem se esconde atrás da pátria para atacar adversários.

Vélez Rodriguez poderia ser um dos 6 milhões de deslocados por conta do conflito na Colômbia contra as FARC. É possível que tenha fugido do país por conta da violência, cada vez mais conhecida e vulgarizada por séries de TV, ocorrida no território nas últimas décadas do último século. Ou pode ter simplesmente preferido morar no Brasil. O importante, hoje, é que desde 1997 o atual ministro da Educação é cidadão brasileiro.

No futebol, a canalhice disfarçada de patriotismo costuma ser mais escancarada. Na Copa da Rússia, viralizou um texto de Romelu Lukaku em que ficou claro que o belga tinha sua nacionalidade questionada de acordo com a circunstância e a conveniência. Note-se que o atacante sequer nasceu na R.D. Congo, sendo esta a origem de seus pais. No caso étnico, à exemplo de Albiright e Kissinger, a situação fica ainda mais complicada, e além de judeus, há o caso de ciganos, como o português Ricardo Quaresma, que pode ser chamado de “rei da trivela” ou “aquele cigano de m...” dependendo do resultado da partida.

Em excelente coluna, Contardo Calligaris trouxe a definição de “patriotice”, a mistura de patriotismo, este sozinho nada negativo, e canalhice. E fez a ótima definição do que o pertencimentos a grupos oferece: “São os grupos que nos autorizam a sermos os canalhas que, sozinhos, nós não nos autorizaríamos ser. A pátria é um desses grupos possíveis.” Ou nas palavras de J.L. Borges, a mistura entre nacionalismo intransigente e patriotismo é negativa por sua incapacidade de dialogar: “O nacionalismo só permite afirmações e, toda doutrina que descarte a dúvida, a negação, é uma forma de fanatismo e estupidez.”.

Existem inúmeras críticas passíveis de serem feitas ao atual governo, inclusive em termos de utilizar “patriotice”, como trouxe Calligaris, sem desqualificar o interlocutor, sobretudo sua origem. Sinceramente, espero que possamos entender isto antes de o primeiro boliviano ou haitiano que estrear pela seleção brasileira perder uma bola, e termos de ouvir alguém gritar um "volta pra casa!".

Dica: Série “Cães de Berlim” no Netflix. Quem receia de produções europeias pois as acham monótonas, não precisa temer com a produção alemã. Assassinato de jogador turco-alemão na véspera de uma partida entre ambos os países desencadeia “patriotices” étnicas. Não dá para não pensar no que ocorreu com Mesut Özil após a última Copa.


Vélez Rodriguez, naturalizado e cidadão brasileiro de 1997. FOTO: (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Em baixa na exportação de petróleo, Venezuela se mantém em alta nos clichês

Em meio às acusações quanto a vilania estadunidense com interesses em surrupiar o petróleo da explorada nação, algo que nem mesmo Maduro repete, e que parte de premissas geopolíticas atrasadas em quase 40 anos, surgiu a figura de Juan Guaidó. Em uma crise de quase seis anos, surgiu de um mês para o outro uma figura aceita como presidente pela comunidade internacional, e imbuída de caráter, compostura e moderação que fariam inveja a Mandela. O fim de Maduro estaria para ocorrer a qualquer momento. Nada muito diferente do que se divulga desde 2014.

O cenário real envolve bem mais pragmatismo do que geopolítica dos anos 70. A “iminência” da queda de Maduro é algo que deve demorar mais do que parece, e a união entorno de Guaidó é bem mais de situação do que a espécie de Nobel da Paz que alguns pintaram nas últimas semanas.

Estes dois ótimos artigos demonstram como a premissa que acusa os EUA de agirem meramente com o interesse imperialista no petróleo venezuelano é falsa. Dentre os muitos fatores envolvidos, chama atenção o fato de que a Venezuela importa petróleo norte-americano para produzir óleo de melhor qualidade e conseguir melhor posição no mercado internacional. Por sua vez, as explorações de xisto necessitam de um valor mais alto no mercado global do barril para serem viáveis, e a crescente na produção por este tipo de extração nos últimos anos nos EUA tornou as empresas lobistas poderosas, e a estas não interessa uma queda repentina na cotação da commoditie. Além disso, com Chavéz e Maduro a Venezuela seguiu sendo um dos maiores exportadores para os EUA. As mudanças ocorridas na posição norte-americana no mercado internacional de petróleo, tornando-se um dos maiores produtores mundiais, tornou obsoleta muitas das acusações contra o país que ouvimos há anos.

Resumo: negócios sobrepõe ideologias. E analisar geopolítica como à época da criação da OPEP pode gerar likes, mas não lucro.

Não faltam motivos que demonstrem hipocrisia no papel dos EUA no cenário global. A grande premissa que deslegitima hoje o governo de Maduro parte do processo fraudulento das eleições presidenciais em 2018. Como mostra a Foreign Police, a tática de pleitos adulterados foi a mesma utilizada no último mês pelo governo da R.D. do Congo, mas desta vez com apoio dos EUA à vitória de Felix Tshikendi. Se a dinâmica do petróleo mudou, a lógica atribuída a Franklin Delano Roosevelt sobre antigo ditador da Nicarágua, “Somoza pode ser um filho da puta, mas é o nosso filho da puta”, indica seguir presente.  

Outra boa peça vem da BBC Brasil. Hoje pouco lembrada, a Mesa de Unidade Democrática (MUD) foi por um tempo a principal força da oposição venezuelana. Um dos grandes problemas do grupo, sendo apontado por governistas, oposição e população, era que de unidade a legenda não tinha nada. Correntes políticas e ego disputaram a liderança como oposição a Maduro, e que em determinado de momento de 2019 chegou a Guaidó, com enorme apoio externo. Leopoldo López, preso desde 2014, pode até respaldar o presidente interino por conta de pertencer à mesma legenda, a Vontade Popular. Mas Henrique Caprilles e María Corina Machado não devem aceitar tão facilmente a liderança do neófito. As divisões ficaram claras em eventos importantes, como o boicote às presidenciais de 2018, que não foi seguido por setores da oposição, e a participação destas frações é hoje argumento de Maduro para validar o pleito.

Mas vem do apoio ao chavismo a maior razão que impede a “queda iminente de Maduro”, profetizada desde 2014. No plano interno, milícias servem ao regime na repressão contra protestos, como ficou marcado nas “Manifestações dos 100 dias” em 2018, que levaram a centenas o número de mortos e feridos. De fato, os grupos possuem uma lealdade menor à figura de Maduro, mas o chavismo ainda exerce um poder muito forte, e que garante relatos como estes da BBC Mundo. Bom aspecto assinalado com unanimidade é o poder que as forças armadas terão no processo. Leal a Chávez, o exército venezuelano galgou grande poder nos últimos 20 anos, e perder a estrutura deve significar o fim de Maduro. Mas afirmar a “iminência” do fato é achismo ou deter informação privilegiada que faria inveja aos melhores serviços de inteligência do mundo.

No exterior, a China, que fez seus maiores investimentos na América Latina no país caribenho é o outro grande fiel da balança. Maduro deposita enorme confiança nos “buenos amigos chinos”, mas o pragmatismo da realpolitik pode jogar contra o mesmo. Com débitos na casa dos dezenas de bilhões de dólares, a “amizade” pode não resistir a um aceno de Guaidó aos asiáticos. É sabido que o senador republicano Marco Rubio e o assessor de Segurança Nacional, John Bolton, desejam uma espécie de resgate da doutrina Monroe, e que a influência na Venezuela é um dos grandes planos desta ala do governo Trump para a região. Mas o que a China investiu nos últimos anos pode ser o gatilho de um dos primeiros grandes conflitos entre as duas maiores economia da atualidade. Entre China, EUA, Guaidó e Maduro, quem esperar lealdade à frente de estratégia pode sair derrotado.

A Rússia investiu militarmente no país, o que pode garantir uma maior segurança a Maduro. No mínimo, com a experiência internacional recente, a presença de equipamento militar russo serve para dissuadir intentos de intervenção. Longe de seu território e com interesse geopolítico menor do que, por exemplo na Síria, é difícil imaginar que Putin investiria muito além para a manutenção do regime. Com menor capacidade de investimento do que os chineses, preservar os interesses econômicos no país pode fazer com que Maduro perca mais um aliado, e é o que já cogita o Moscow Times. A partir de agora, o apoio deve ficar mais em esferas diplomáticas, como o Conselho de Segurança da ONU.

Os seguidos reconhecimentos de Guaidó como presidente interino demonstram uma enorme força, mas é preciso levar em conta também o apoio que ainda resta a Maduro. Dois dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança; uma potência petrolífera carregada de sanções que completa 40 anos como inimigo dos EUA no plano externo, o Irã; a estratégica Turquia, membra da OTAN; e uma série de países aliados ideologicamente que se beneficiaram do petróleo venezuelano, com destaque para Cuba e Nicarágua. Por sua vez, o México de Obrador é importante parceiro para uma negociação que envolva o governo, assim como o Uruguai.

“É lamentável que o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, e que já foi uma potência regional na década de 70 chegue a este estágio de penúria com 3 milhões de refugiados e uma inflação anual de 1.000.000 % no último ano. A péssima gestão populista de Maduro, seguida por seus abusos autoritários não permitem mais chamar a Venezuela de democracia. A repressão contra opositores configura um crime, e os responsáveis devem ser punidos.” Não discordo de nada deste parágrafo, que escrevi em uma espécie de agregador para qualquer editorial no mundo. Mas sem melhor contexto, estamos fadados a repetir clichês. Hoje estes abundam mais do que o petróleo no que se refere à Venezuela.

Sugestão
Por fim, ninguém melhor para tratar do assunto do que Nicolás Maduro. Nas excelente série catalã Salvados (tem na Netflix), o homem tão falado, e nem tão ouvido, deu uma longa entrevista em 2017 a Jordi Évole em uma das melhores produções sobre Venezuela que já vi.       

                                      
                                        Cena da entrevista com Maduro em Salvados. Líder promete responder a todas perguntas. E o faz

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Elementar, meus caros. E aí?


O ano de 2018 foi histórico e intenso. Se durante grande parte da minha vida me ressenti por estar longe dos grandes acontecimentos, não posso queixar de que o mesmo ocorreu no ano que termina. De formas diferentes, as duas cidades em que vivi estiveram com grandes atenções.

Em Lisboa, vivenciei o auge do interesse recente em Portugal exemplificado na realização de grandes eventos com presenças ilustres de nomes sobre os quais só lia nos jornais, como Emmanuel Macron e Roberto Azevedo. Já Juiz de Fora, desde que voltei, o município parece envolvido em um realismo mágico de acontecimentos bizarros que faz da cidade uma espécie de Macondo da Zona da Mata. Ano de uma boa Copa, o que já bastaria para render longas conversas. Mas o foco esteve sempre comigo, e cada vez menor quantidade.

Em maio, cortei o cabelo pela primeira vez fora de Juiz de Fora e percebi que algo péssimo havia acontecido. Foi o dia da convocação da seleção brasileira para a Copa, e eu estava preparado para qualquer corneta, de preferência Taison ou Fagner, mas não me incomodaria em algo menos ortodoxo como a pedida de Vinícius Júnior, e até mesmo um ousado resgate de Adriano, quem vai em barbeiro sabe do que falo. No ortodoxo recinto que frequento em Juiz de Fora, a corneta ao Tupi normalmente envolve o “6”, “tem muita gente na várzea aqui que joga mais”, e “eu mesmo quando jogava”. Desta vez nada disso. O único assunto do brasileiro que cortou meu cabelo naquela tarde lisboeta foi minha calvície.

Entre um comentário sobre implante e outro, o mesmo perguntou: “mas você já tá tranquilo com isso, né?” Era nítido que o assunto me incomodava mais do que minha condição capilar, e que para ele a minha condição era mais importante do que para mim, mas respondi um “é” seco, sem muita esperança de que o assunto ali terminasse, o que se concretizou.

A questão para mim já tinha terminado há quase dois anos, quando minha queda de cabelo aumentou e fui ao médico. Quis saber se era normal acordar pensando que um rato estava no travesseiro. Perguntei se havia algum hábito ou algo que poderia diminuir aquilo, ele disse que era natural, indicou uma alopecia hereditária, e que eu não poderia fazer nada a respeito. A partir daí, ao ver que eu usava uma camisa da seleção turca, começamos a falar sobre o país. O assunto no especialista que constatou a inevitabilidade da minha careca foi bem mais agradável do que uma série de outros que se seguiram em bares e barbearias.

Poderia ter escrito sobre a situação mais cedo, a questão é que enfim decreto: acabou a criatividade. Qual a resposta que alguém espera para “tá ficando careca?” Tentei ser educado, sucinto, engraçado (no que frequentemente falhei, e assumo a culpa), didático, conformado, mas o assunto não termina. Vão completar cinco anos que grande parte das conversas dos meus amigos se resumem ao que eu não tenho: antes carros e carteiras de motorista, agora meu cabelo. Queria gostar da ideia de perucas tanto quanto amo metrôs.

Vamos lá, tem bastante assunto. Prometo tentar dessa vez achar resposta para o “tá quente, né?”.

Tite era tão intocável que nem o prazer da corneta no dia da convocação cheguei a ter. Mas insistir em Jesus não tem careca que me faça calar. FOTO: CBF